Hoje nos demos o luxo de dormir um pouco mais. Levantamos às 7 e pouco.
Até que todo mundo tira a remela dos olhos, toma banho e come alguma coisa, já passa das 8.
Alguns mais caprichosos, como a Iva e o Dani, lavam alguma roupa pra ter roupa limpa. Outros, como eu, não lavam, aproveitando as últimas peças de roupa limpa, e aguardando a oportunidade de ter mais tempo para lavar.
A Fran me acompanhou até a paróquia, buscar a Kombi, que lá estava guardada (por segurança).
Voltando pra casa da Arleth, fomos todos, de Kombi, para o Centur, para o 2º dia do Fórum Mundial de Teologia e Libertação.
Ao desembarcar, no estacionamento, um homem olhou a Kombi, e ficou impressionado ao saber que viemos de SC com ela. Ele é o padre Daniel, natural da Itália, atualmente no Maranhão. A Lila trocou umas palavras em italiano com ele. Junto com ele estava uma moça que atua na PJ aí no Maranhão.
PALESTRAS "BAIXAMENTE" INTERESSANTES
Chegamos atrasados na 1ª palestra, que ainda não tinha começado.
Como os palestrantes de hoje eram de outros países, tinha que pegar tradutor. Mas o negócio aqui é "altas chicura": tem tradutores numa salinha que transmitem a "dublagem" via rádio, e a gente escuta em fones de ouvido ligados a receptores específicos para isso, emprestados na entrada mediante retenção do documento de identidade.
O tema da manhã de hoje era: "Espiritualidade e ética na agenda da Sustentabilidade".
A primeira palestrante foi a Sra. Emilie Townes, dos EUA (que, para nossa surpresa, era a mulher que estava sentada do nosso lado, durante a palestra do Boff, e que não tava nem aí pra palestra, ficou só no notebook olhando não-sei-o-quê e mandando e-mails).
A fala dela não trouxe muitas novidades. Pode-se destacar 2 frases: "Desenvolvemos uma doutrina muito forte do pecado, e não tanto para a criação. Vamos logo para Gênesis 3" e "O futuro começou ontem e já estamos atrasados".
O inglês dela devia ser difícil, pois a muié que traduzia às vezes se encabulava. Uma hora ela não conseguiu traduzir e disse: "vixi Maria". Todo mundo riu. A palestrante não deve ter entendido nada.
A segunda palestra era com Steve DeGruchy, da África do Sul. A fala dele era mais animada, mas não estava sendo muito interessante. Ele falava sobre os esgotos da África do Sul quando saímos do auditório. Primeiro, porque já estávamos sem "vôia" pra ficar lá. Segundo, porque tínhamos que ir encontrar a Arleth na CNBB.
Demos uma passada nas diversas bancas de livros que tinha por lá. Como bons devoradores de livros que somos, não resistimos e compramos alguns. Também compramos algumas edições especiais da revista "Caros amigos", sobre Che, América Latina...
TRÂNSITO ALTAMENTE FEROZ
Estamos na região amazônica. Embora em Belém a floresta já foi desmatada há décadas, o trânsito continua sendo uma selva.
No caminho para a CNBB, o motorista (eu, no caso) pagou seus pecados. As avenidas com 3 ou 4 pistas, inundadas pelos inúmeros veículos circulando na hora de pico do meio-dia, não necessitariam de tanta atenção se não fossem eles, os ônibus. Os circulares andam como loucos, rápidos, apressados, e quando resolvem trocar de pista ligam o pisca e vão. E nós, na pobre Kombi, só resta buscar escapar, porque o busão não espera pelos pequenos, mesmo nós sendo um filhote de ônibus =D
Mas sobrevivemos, com apenas 2 momentos de suar frio com os ônibus.
Contudo, passamos da rua que deveríamos entrar, necessitando fazer o retorno. Achamos um espaço e me posicionei lá, aguardando o sinal fechar. Só que, lá estando, descobrimos que não era um local permitido para retorno. Mas era tarde demais, e já estávamos com 3 fileiras de carros de um lado, 3 fileiras do outro, e mais 2 à frente, esperando abrir o sinal para entrar no cruzamento. Assim que abriu o sinal, a Kombatente foi rapidinho, com o rabo entre os pneus, para a rua desejada. Uma guarda viu a cena e apitou, fazendo que "não pode" com a mão. Rezamos que ela não tenha visto nossa placa ou, que na sua sensibilidade feminina, tenha percebido que éramos pobres turistas perdidos no caótico trânsito da cidade onde Jesus nasceu.
ALMOÇO NO MERCADO VER-O-PESO
Após todo esse sufoco, conseguimos chegar à sede da CNBB, regional Norte 2, onde Arleth já nos aguardava há tempos (já era 12h30). Como as barrigas já reclamavam o tradicional almoço diário, fomos até o mercado "Ver-o-peso" almoçar. É uma grande feira livre, e a prefeitura construiu tendas sobre, ajeitando tudo isso. É meio ruim de explicar, quem quiser procura no Google =D
Fomos a uma banca que a Arleth conhece. Eles servem peixe frito, arroz, feijão, macarrão e, é claro, farinha. E, como toda refeição aqui no Pará, tem açaí. Mas só a Arleth e a irmã Adé quiseram açaí, nós negociamos suco em substituição ao açaí. Uma boa refeição de encher a pança por R$ 6.
A comida estava boa, mas o ambiente no caminho não era tão salubre: no cais onde ficam os barcos pesqueiros, frutas podres pelo chão, urubus se lambuzando com a comida, cheiro de peixe... Mas foi muito bacana conhecer.
VAMO PRA AMAZÔNIA!!
Comidos e com malas carregadas, demos uma passada da casa da Arleth para deixar a chave. Aproveitei e postei no blog que estávamos saindo, para as famílias não ficarem desesperadas pela ausência de notícias.
Eram 14h quando abastecemos e saímos em direção ao município de Cametá que, segundo a Arleth, está a uns 150km daqui.
Fomos em 8 na Kombi. Infelizmente, para termos espaço, deixamos o banco de trás em casa. Então fomos sobrecarregados. Deu tudo certo, mas na volta 2 irão de busão, por questões de segurança e também pra não levarmos multa.
No caminho, passamos por 2 grandes rios, com pontes muito bonitas, uma delas construída com o sacrifício da vida de uns 11 trabalhadores (segunda a Arleth. Mas isso não é divulgado, apenas o "grande feito" da administração que liberou o dinheiro).
Também passamos por 2 rios pequenos que tinham balsas. Foi bem rapidinho pra passar, e bem barato (R$ 10,20 no total). Antes de embarcar em uma delas, encontramos um caminhão descarregando uma carga de açaí (é tipo um coquinho que, depois de amassado, se mistura com farinha e açúcar para beber. É tão comum aqui quanto chimarrão lá. Estamos aprendendo a gostar. Exceto a Lila =D).
Após 250km (100 a mais que a Arleth pensava), chegamos ao povoado de Carapajó, onde o pai dela já nos aguardava com um barco do vizinho. Já eram umas 19h.
Povoado bem simples, de casas de madeira e povo com fisionomia indígena, provavelmente descendente de indígenas, misturados com brancos. Assim como a maioria do povo ribeirinho que tivemos contato, não sabem exatamente suas origens, e vivem num estilo de vida com hábitos indígenas e brancos, já adaptados à cultura ocidental (não sei se isso é bom).
Deixamos a Kombi numa casa de uns conhecidos da família da Arleth em Carapajó, e embarcamos (literalmente), rumo à casa do seu Dário (pai da Arleth). Daí foi mais 1 hora de barco até o povoado de Guajará, onde umas 150 famílias vivem à beira do rio Tocantins, nas margens e nas ilhas formadas pelo rio.
Pena que era noite. Mas já deu pra ter uma boa idéia da beleza do percurso, vendo as árvores da floresta amazônica na margem e o grande rio Tocantins, uma imensidão de água. Do pequeno barco a motor diesel (que cabe em torno de 15 pessoas), contemplávamos a maravilhosa natureza a nossa volta, e nos maravilhávamos, boquiabertos, com tudo de fantástico que estávamos vivenciando, imaginando como somos bem-aventurados em ter a oportunidade de estar aqui.
O Dani, observando as margens, viu o azul das telinhas de TV nas casas. Comentou como é grande o alcance e influência da TV, pois até no interior da floresta amazônica o povo assiste.
PRIMEIRO POUSO NA FLORESTA AMAZÔNICA
Conhecemos a simples e não tão pequena casa de madeira do seu Dário.
Ao passear pela casa, ficamos receosos por não ver o banheiro. Pedi para Arleth onde era, com receio de que ela apontasse para o meio do mato. Mas, para nossa alegria, ela apontou para uma rampa atrás da casa, que nos levava até uma casinha de madeira, com 2 buracos (algo comum até recentemente na zona rural de nossos municípios, que conhecemos por vários nomes: patente, privada, capunga...). Os rapazes, que têm água encanada, podem fazer o nº 1 direto da rampa =D
Jantamos arroz com charque, enchemos os colchões infláveis e fomos dormir, já que todos estávamos cansados. Alguns, como o Dani, a Arleth, irmã Adé e eu pudemos dormir em redes. Os demais ficaram nos colchões.
Até que todo mundo tira a remela dos olhos, toma banho e come alguma coisa, já passa das 8.
Alguns mais caprichosos, como a Iva e o Dani, lavam alguma roupa pra ter roupa limpa. Outros, como eu, não lavam, aproveitando as últimas peças de roupa limpa, e aguardando a oportunidade de ter mais tempo para lavar.
A Fran me acompanhou até a paróquia, buscar a Kombi, que lá estava guardada (por segurança).
Voltando pra casa da Arleth, fomos todos, de Kombi, para o Centur, para o 2º dia do Fórum Mundial de Teologia e Libertação.
Ao desembarcar, no estacionamento, um homem olhou a Kombi, e ficou impressionado ao saber que viemos de SC com ela. Ele é o padre Daniel, natural da Itália, atualmente no Maranhão. A Lila trocou umas palavras em italiano com ele. Junto com ele estava uma moça que atua na PJ aí no Maranhão.
PALESTRAS "BAIXAMENTE" INTERESSANTES
Chegamos atrasados na 1ª palestra, que ainda não tinha começado.
Como os palestrantes de hoje eram de outros países, tinha que pegar tradutor. Mas o negócio aqui é "altas chicura": tem tradutores numa salinha que transmitem a "dublagem" via rádio, e a gente escuta em fones de ouvido ligados a receptores específicos para isso, emprestados na entrada mediante retenção do documento de identidade.
O tema da manhã de hoje era: "Espiritualidade e ética na agenda da Sustentabilidade".
A primeira palestrante foi a Sra. Emilie Townes, dos EUA (que, para nossa surpresa, era a mulher que estava sentada do nosso lado, durante a palestra do Boff, e que não tava nem aí pra palestra, ficou só no notebook olhando não-sei-o-quê e mandando e-mails).
A fala dela não trouxe muitas novidades. Pode-se destacar 2 frases: "Desenvolvemos uma doutrina muito forte do pecado, e não tanto para a criação. Vamos logo para Gênesis 3" e "O futuro começou ontem e já estamos atrasados".
O inglês dela devia ser difícil, pois a muié que traduzia às vezes se encabulava. Uma hora ela não conseguiu traduzir e disse: "vixi Maria". Todo mundo riu. A palestrante não deve ter entendido nada.
A segunda palestra era com Steve DeGruchy, da África do Sul. A fala dele era mais animada, mas não estava sendo muito interessante. Ele falava sobre os esgotos da África do Sul quando saímos do auditório. Primeiro, porque já estávamos sem "vôia" pra ficar lá. Segundo, porque tínhamos que ir encontrar a Arleth na CNBB.
Demos uma passada nas diversas bancas de livros que tinha por lá. Como bons devoradores de livros que somos, não resistimos e compramos alguns. Também compramos algumas edições especiais da revista "Caros amigos", sobre Che, América Latina...
TRÂNSITO ALTAMENTE FEROZ
Estamos na região amazônica. Embora em Belém a floresta já foi desmatada há décadas, o trânsito continua sendo uma selva.
No caminho para a CNBB, o motorista (eu, no caso) pagou seus pecados. As avenidas com 3 ou 4 pistas, inundadas pelos inúmeros veículos circulando na hora de pico do meio-dia, não necessitariam de tanta atenção se não fossem eles, os ônibus. Os circulares andam como loucos, rápidos, apressados, e quando resolvem trocar de pista ligam o pisca e vão. E nós, na pobre Kombi, só resta buscar escapar, porque o busão não espera pelos pequenos, mesmo nós sendo um filhote de ônibus =D
Mas sobrevivemos, com apenas 2 momentos de suar frio com os ônibus.
Contudo, passamos da rua que deveríamos entrar, necessitando fazer o retorno. Achamos um espaço e me posicionei lá, aguardando o sinal fechar. Só que, lá estando, descobrimos que não era um local permitido para retorno. Mas era tarde demais, e já estávamos com 3 fileiras de carros de um lado, 3 fileiras do outro, e mais 2 à frente, esperando abrir o sinal para entrar no cruzamento. Assim que abriu o sinal, a Kombatente foi rapidinho, com o rabo entre os pneus, para a rua desejada. Uma guarda viu a cena e apitou, fazendo que "não pode" com a mão. Rezamos que ela não tenha visto nossa placa ou, que na sua sensibilidade feminina, tenha percebido que éramos pobres turistas perdidos no caótico trânsito da cidade onde Jesus nasceu.
ALMOÇO NO MERCADO VER-O-PESO
Após todo esse sufoco, conseguimos chegar à sede da CNBB, regional Norte 2, onde Arleth já nos aguardava há tempos (já era 12h30). Como as barrigas já reclamavam o tradicional almoço diário, fomos até o mercado "Ver-o-peso" almoçar. É uma grande feira livre, e a prefeitura construiu tendas sobre, ajeitando tudo isso. É meio ruim de explicar, quem quiser procura no Google =D
Fomos a uma banca que a Arleth conhece. Eles servem peixe frito, arroz, feijão, macarrão e, é claro, farinha. E, como toda refeição aqui no Pará, tem açaí. Mas só a Arleth e a irmã Adé quiseram açaí, nós negociamos suco em substituição ao açaí. Uma boa refeição de encher a pança por R$ 6.
A comida estava boa, mas o ambiente no caminho não era tão salubre: no cais onde ficam os barcos pesqueiros, frutas podres pelo chão, urubus se lambuzando com a comida, cheiro de peixe... Mas foi muito bacana conhecer.
VAMO PRA AMAZÔNIA!!
Comidos e com malas carregadas, demos uma passada da casa da Arleth para deixar a chave. Aproveitei e postei no blog que estávamos saindo, para as famílias não ficarem desesperadas pela ausência de notícias.
Eram 14h quando abastecemos e saímos em direção ao município de Cametá que, segundo a Arleth, está a uns 150km daqui.
Fomos em 8 na Kombi. Infelizmente, para termos espaço, deixamos o banco de trás em casa. Então fomos sobrecarregados. Deu tudo certo, mas na volta 2 irão de busão, por questões de segurança e também pra não levarmos multa.
No caminho, passamos por 2 grandes rios, com pontes muito bonitas, uma delas construída com o sacrifício da vida de uns 11 trabalhadores (segunda a Arleth. Mas isso não é divulgado, apenas o "grande feito" da administração que liberou o dinheiro).
Também passamos por 2 rios pequenos que tinham balsas. Foi bem rapidinho pra passar, e bem barato (R$ 10,20 no total). Antes de embarcar em uma delas, encontramos um caminhão descarregando uma carga de açaí (é tipo um coquinho que, depois de amassado, se mistura com farinha e açúcar para beber. É tão comum aqui quanto chimarrão lá. Estamos aprendendo a gostar. Exceto a Lila =D).
Após 250km (100 a mais que a Arleth pensava), chegamos ao povoado de Carapajó, onde o pai dela já nos aguardava com um barco do vizinho. Já eram umas 19h.
Povoado bem simples, de casas de madeira e povo com fisionomia indígena, provavelmente descendente de indígenas, misturados com brancos. Assim como a maioria do povo ribeirinho que tivemos contato, não sabem exatamente suas origens, e vivem num estilo de vida com hábitos indígenas e brancos, já adaptados à cultura ocidental (não sei se isso é bom).
Deixamos a Kombi numa casa de uns conhecidos da família da Arleth em Carapajó, e embarcamos (literalmente), rumo à casa do seu Dário (pai da Arleth). Daí foi mais 1 hora de barco até o povoado de Guajará, onde umas 150 famílias vivem à beira do rio Tocantins, nas margens e nas ilhas formadas pelo rio.
Pena que era noite. Mas já deu pra ter uma boa idéia da beleza do percurso, vendo as árvores da floresta amazônica na margem e o grande rio Tocantins, uma imensidão de água. Do pequeno barco a motor diesel (que cabe em torno de 15 pessoas), contemplávamos a maravilhosa natureza a nossa volta, e nos maravilhávamos, boquiabertos, com tudo de fantástico que estávamos vivenciando, imaginando como somos bem-aventurados em ter a oportunidade de estar aqui.
O Dani, observando as margens, viu o azul das telinhas de TV nas casas. Comentou como é grande o alcance e influência da TV, pois até no interior da floresta amazônica o povo assiste.
PRIMEIRO POUSO NA FLORESTA AMAZÔNICA
Conhecemos a simples e não tão pequena casa de madeira do seu Dário.
Ao passear pela casa, ficamos receosos por não ver o banheiro. Pedi para Arleth onde era, com receio de que ela apontasse para o meio do mato. Mas, para nossa alegria, ela apontou para uma rampa atrás da casa, que nos levava até uma casinha de madeira, com 2 buracos (algo comum até recentemente na zona rural de nossos municípios, que conhecemos por vários nomes: patente, privada, capunga...). Os rapazes, que têm água encanada, podem fazer o nº 1 direto da rampa =D
Jantamos arroz com charque, enchemos os colchões infláveis e fomos dormir, já que todos estávamos cansados. Alguns, como o Dani, a Arleth, irmã Adé e eu pudemos dormir em redes. Os demais ficaram nos colchões.
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