sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

27º dia [28/jan] 1º dia efetivo no FSM

O dia começou cedo. Despertar às 6h30. Mas o dormir "só mais um pouquinho" demorou 45 min, e levantamos às 7h15. Queríamos estar às 8h no local da 1ª palestra do dia, com Heloísa Helena, mas até que tomamos café e arrumamos as coisas, era 8h20.

Fomos, então, pro ponto programado para a palestra. Não tinha sequer tenda montada lá. Demos umas voltas e descobrimos o local que o povo do PSol arrumou pra fazer a palestra: a tenda Ir. Dorothy onde, por coincidência, está trabalhando nossa amiga Arleth. Esta nos falou que eles nem pediram pra fazer lá, apenas foram "tomando conta".

Foi interessante a presença do povo do PSol, com vários gritos de ordem. A maioria eram jovens. Tinham gritos sobre a crise, sobre o massacre do povo palestino, sobre o partido, dentre outros.

Era quase 10h quando a palestra começou, com uma fala de uns 15 min dum francês, François Ollivier, do Novo Partido Anticapitalista da França.

 

FALA DA HELOÍSA HELENA

 

Depois teve a fala da Heloísa Helena, focada na crise econômica internacional.

Foi interessante. Mas acho o PSol muito radical. Eles querem representar um socialismo puro, e ao mesmo tempo conquistar o poder. Eu acho muito difícil isso acontecer num âmbito maior (nacional), pois a estrutura é de direita, e Lula só conseguiu se eleger porque se aliou com a burguesia. Também não achamos que a mudança estrutural da sociedade acontecerá pela via política, mas sim pela sociedade civil organizada. Por mais esquerdista que um partido seja, quando chega no governo consegue apenas fazer algumas coisas esquerdistas, mas no geral tem que seguir a estrutura, que é de direita.

 

MSL

 

Na palestra, estava presente o MSL - Movimento Terra, trabalho e Liberdade, dissidente do MST e mais radical. Eles cantaram uma música que odiamos. Um trecho dizia: "Aqueles que mandam matar também têm que morrer".

Como cristãos, acreditamos que não é com violência que se constrói a paz. Gandhi dizia: "Olho por olho, e o mundo ficará cego".

 

IDA PRA UFPA

 

O Fórum Social Mundial acontece em 2 universidades federais: a UFRA (algo como Universidade Federal Rural da Amazônia, onde estamos) e UFPA (Universidade Federal do Pará). É relativamente perto de uma até outra. Tem um barco que leva o povo, e fomos com ele (R$ 2).

O calor do meio-dia é extremamente desanimador. A gente perde a vontade de participar das atividades. Fomos até o local que procurávamos onde, de acordo com a programação, teria algo contra a criminalização dos movimentos sociais. Mas não era palestra nem debate: eram atividades culturais. Assistimos um pouco, compramos umas camisetas do FSM, e pegamos um busão pra voltar pra UFRA.

 

LUTAS DA AMAZÔNIA

 

Demos uma passada na tenda Ir. Dorothy, onde falavam sobre "A Igreja e seus mártires em defesa da Amazônia".

Sentados no chão, lutando contra o sono (resultado da equação calor + pós-almoço), ouvimos uma fala de denúncia, dizendo como aconteça a repressão a quem luta por justiça na Amazônia. Bem sério isso.

 

LEONARDO BOFF E MARINA SILVA

 

Saímos no meio da fala sobre Amazônia para ir pra outra tenda, sobre "Meio Ambiente e Participação da Juventude", com Leonardo Boff e Marina Silva. Muito concorrido, por sinal. A tenta tava cheia. Sorte que a parte lateral era aberta, então achamos umas cadeiras e sentamos na grama, do lado de fora.

Alguns trechos das falas:

Leonardo Boff:

- Eles estavam errados, e tiveram que reconhecer o fracasso daquele outro mundo, impossível;

- O capitalismo vem, há 300 anos, sugando de forma ilimitada os recursos naturais de nosso planeta, distribuindo de forma extremamente injusta os resultados, sem nenhuma sensibilidade intergeneracional;

- Sócrates andava pelos mercados de Atenas, mas não comprava nada. Apenas olhava para tudo o que ele não precisava para viver;

- O bem-comum foi mandado para o limbo com o capitalismo;

- Se queremos ser realistas, temos que ser visionários.

Marina Silva:

- Não existe nada mais propulsor, alavancador de mudanças que o jovem;

- Nós (humanidade) não fomos sábios para aprendermos com os erros de nossos antepassados. Não sejamos estúpidos de não aprendermos com os nossos;

- Se a juventude fosse pragmática, pensando demais nas conseqüências, não teríamos construído a redemocratização do país;

- Não teremos um "salvador da pátria". Teremos lideranças multicêntricas para questões multicêntricas;

 

Muito show as duas palestras. A do Boff, pelo tema, foi bem parecida com a palestra que vimos no Fórum de Teologia. Mesmo assim, ambas foram bem bacanas e reforçam a esperança e a crença na juventude como agente de mudança.

 

DECEPÇÃO COM ACAMPAMENTO DA JUVENTUDE

 

As atividades do Fórum tão bacanas, mas a interação com outras pessoas está aquém do esperado, especialmente com outros jovens.

Sonhávamos que o Acampamento Internacional da Juventude, onde estamos, fosse um espaço onde pudéssemos encontrar jovens do mundo todo e trocar idéias com eles sobre o "outro mundo possível".

Tem, sim, inúmeros jovens de todo o mundo (alguns falam em 6.000, a grande maioria do Brasil). Mas os papos não são tão cabeças assim. O problema é que a maioria dos que encontramos veio junto com ônibus de universidades, e não pertencem a alguma organização. Muitos destes acabam vindo fazer turismo. Dessa forma, o povo se preocupa mais com a diversão do que com o Fórum em si. À noite o negócio ferve (som no acampamento, gente circulando pra lá e pra cá).

À noite, começamos a cogitar mudar-se para o acampamento da Via Campesina (que acontece num centro tecnológico a 1km daqui, com alojamento das salas). Ao menos lá o povo tem mais conteúdo. Vamos ver amanhã.

 

CHOVE CHUVA... E COMO CHOVE

 

À noite, nos dirigíamos, a pé, para o Acampamento da Via, onde era pra ter a Jornada Socialista.

Mas, no caminho, um torró de chuva caiu sobre nós. Os mais precavidos (Lila, Tonho e eu) voltamos, pra não ficarmos gripados. Os demais foram tomar uma cerveja (exceto a Iva, que já tava nas barracas).

Voltando para as barracas, estávamos com medo de ter estragado câmera digital, celular e relógio. Pra nossa alegria, a chuva não afetou eles muito, mesmo estando nas sacolas que levávamos junto. Mas os materiais (jornais, panfletos...) ficaram todos molhados. Molhou até o recibo de pagamento das inscrições do 9º ENPJ, que estava na pochete. Vamos ver como faremos para restituir... =D

Como a água já tinha enchido a valeta e começava a invadir as barracas, pegamos um balde e esvaziamos um pouco a valeta. Depois tomamos banho e fomos dormir, cansados de caminhar o dia todo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

26º dia [27/jan] Correrias e correrias...

Acordamos ali pelas 7, com o Sol já alto, esquentando nossas barracas.

Ouvia-se, da Aldeia da Paz, o som de um violão e um jovem cantando algo contra a guerra. Bem bacana.

Tomamos banho e tomamos café, sentados num tapete no chão. Parecia pique-nique =D

O calor começou a ficar feroz. Para melhorar, mosquitos e formigas. Passamos bloqueador solar e repelente.

Para fugir do Sol, fomos até uma sombra planejar o dia (o que precisávamos fazer e comprar antes que o FSM comece).

Enquanto isso, observávamos o povo da Aldeia da Paz reunidos em roda. Cantaram músicas de paz, fizeram alguns rituais e finalizaram com as mãos erguidas, parecendo louvação carismática. Não dá pra julgar sem conhecer, mas mesmo assim vou emitir uma opinião parcial, a partir do que vi: acho o pacifismo bem legal, mas parece que este é um pacifismo vazio, pregando a paz pela paz. Não tem como a gente pensar em paz se não houver mudanças na sociedade. Como dizer pra alguém que está passando fome e não tem emprego ficar em paz? Como pensar em combater as guerras sem observar os aspectos econômicos ligados a isso?

MUDANÇA DE LOCAL

Conforme avançava a manhã, o calor ficava insuportável. Decidimos buscar um lugar com sombra para colocarmos nossas barracas.

Achamos um lugar embaixo de umas árvores. Buscamos, em 2 viagens, nossas barracas montadas. Recém-chegamos ao novo local, ainda observávamos as formigas que insistiam em nos picar, quando um homem veio dizer que não poderíamos ficar lá, pois era reservado para uma organização específica, para atividades.

Nos mudamos para um local logo abaixo, perto de um prédio.

No fim da manhã, chegaram ao credenciamento os jovens da PJ da Diocese de Chapecó que vieram com o CIMI (comitê indigenista): a Daia, a Solange e o Xarope. A Solange passou um pouco mal (desidratação) e foi para a barraquinha dos bombeiros. Nada grave. Só ficou um pouco no soro.

IDA PARA A CIDADE

Nos dividimos: o Dani, a Daia e a Solange ficaram no acampamento, e os demais fomos pro centro, buscar as coisas deles (que ficaram no CIMI) e deixar a Kombi na paróquia.

Almoçamos no Ver-o-peso (o Xarope e eu comemos açaí com peixe frito, os demais comida normal).

Depois, fomos comprar algumas coisas no mercado, e em seguida nos dirigimos ao CIMI.

O congestionamento estava infernal! Em virtude da caminhada de abertura do FSM (que acabamos perdendo), o trânsito estava praticamente parado. Demoramos 3h30 para ir até o CIMI e voltar ao Acampamento (o que levaria uns 30 minutos em dias normais). Dessa forma, chegamos aqui perto das 20h, e não deu pra levar a Kombi na paróquia.

Acabamos decidindo deixar a Kombi aqui mesmo. Conseguimos deixar ela em um lugar bacana, acho que será seguro.

JANTA E SONO

Agora à noite, as moças fizeram macarrão (depois de quase um mês de viagem, não tem muito luxo alimentar. Qualquer coisa que não se mexe e não está crua é bem vinda). Mas até que não estava ruim =D (não posso falar mal porque a Lila tá aqui do lado... huahhaa).

Tomamos banho e o povo ficou arrumando as coisas enquanto eu vim pro corredor, perto de uma tomada, atualizar o blog (povo que nos acompanha, viu como são importantes para nós? Veja só o sacrifício que fazemos por vocês... :D).

Os jovens menos cansados de nós vão para um show multi-cultural que terá por aqui. Os demais (como eu, menos resistentes), vão dormir pra estar inteiros amanhã.

FRASE DO DIA

No caminho do acampamento, havia várias camisetas sendo vendidas na beira da estrada. Chamou atenção a frase de uma: "O lema do capitalismo é: comprar o que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para mostrar para quem você não conhece o que você não é".

25º dia [26/jan] Credenciamento e Alojamento no Fórum Social Mundial

Tiramos o dia para ajeitar as coisas pendentes: lavar as roupas (a Lila deu pulos de alegria quando viu a roupa limpa e seca), atualizar o blog (escrevi e postei uma semana de blog. Demorou horas) e se alojar no Acampamento da Juventude do Fórum Social Mundial.

IDA PRO FSM

Na metade da tarde, pegamos a Kombi, carregamos, e fomos para a UFRA (universidade onde está acontecendo o Acampamento da Juventude). Pegamos engarrafamento para chegar e, até que conseguimos nos credenciar, já estava quase escuro. Procuramos um lugar para colocar nossas barracas. No lugar onde estava a maioria das barracas, praticamente não havia espaço. Então fomos para outra área, quase toda livre. Começamos a montar nossas barracas, todos felizes e, quando estas estavam quase armadas, a Lila disse: "Rodrigo, olha aí...". A uns 5 metros da gente, tinha uma placa dizendo algo como "Acampamento GLBT". Ops... Não temos nada contra os homossexuais, mas não somos. Então resolvemos mudar nossas barracas para além do barbante.

Cara, é uma diversidade muito grande por aqui. Nós, de tão normais, chegamos a ser diferentes. Aos arredores de onde estamos, tem bastante gente de estilo alternativo, tipo hippie. Do lado tem uma "Aldeia da paz", com direito a Kombi multicolorida, fogueira central, bandeiras com arco-íris e tudo mais.

KOMBATENTE FAZENDO FRETE

À noite, enquando a Lila, a Iva e o Tonho arrumavam as coisas, o Dani e eu fomos, com a Kombatente, até o acampamento da Via Campesina, pois o povo de lá pediu ajuda.

Fomos até o centro buscar uns pacotes do jornal "Brasil de Fato" e levamos até a CNBB (tipo, uns 20.000 exemplares, que serão distribuídos no FSM).

Voltamos à meia-noite, direto pra barraca. Os demais já dormiam.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

24º dia [25/jan] De volta da Amazônia

Continuamos zoando da Irmã Adenice. Hoje, a Arleth falou: "Deus disse: 'faça-se o sono. E criou a irmã Adé'". Huahhaha.

Levantamos às 6h para voltar a Belém. Arrumamos as malas e fomos com o barco que nos levou até o vilarejo de Carapajó. Dessa vez o trajeto foi mais rápido: apenas meia hora.

Em Carapajó, fomos buscar a Kombi na casa onde deixamos, e ganhamos 2 cupuaçus (frutas).

Depois fomos conhecer a feira da vila. Lá, fizemos umas experiências gastronômicas: tomamos tacacá. É tipo uma sopa feita com uma parte da rama da mandioca, outra erva, camarão e outras coisas mais, servida quente numa tigela que aqui chamam de cuia. Não gosto de camarão, mas o caldo era gostoso.

A chuva atrapalhou um pouco. Nessa época, chove praticamente todo dia. Existem 2 estações do ano por aqui: inverno e verão. Ambas são quentes (casaco é algo meio desconhecido por aqui). A diferença é que o inverno é bem chuvoso. Conseqüentemente, pra qualquer um de Belém que você pedir, estamos no inverno. Nós ficamos brincando com o povo, dizendo que agora é verão =D

POLÍCIA DO IBGE

Na volta para Belém, o Tonho e a Ir. Adé foram de busão, por segurança e pra evitarmos multas.

E não é que acertamos? Pela primeira vez na viagem, fomos parados pela polícia (acho que tenho que fazer a barba, pois devo estar com cara de suspeito). E, pra aumentar a "ineditez", fomos parados 2 vezes. Da segunda, o policial pediu daonde estávamos vindo, pra onde íamos, daonde éramos, se "Kombinando sonhos" era uma ONG...

Depois, a Arleth bringou: que legal, polícia do IBGE!! :D

NAVIO DO GREENPEACE

Almoçamos no mercado "Ver-o-peso", e depois fomos ver o navio "Artic Sunrise", do Greenpeace, que está por aqui. Para nós, que somos fãs do Greenpeace, é show-de-bola poder visitar esse navio, que está é utilizado no mundo todo, inclusive em expedições na Antártida.

Porém, a fila estava grande (em torno de 1h30). Então, contentamo-nos em tirar fotos externamente.

MISSA E FESTA ARLETH

À noite, fomos para a missa na comunidade. Lá, conhecemos o grupo de cantos no qual a Arleth participa. Em seguida, voltando para a casa, foi feita uma festinha-surpresa de aniver para a Arleth.

Pra finalizar a noite, a aniversariante sugeriu irmos pro sinucão. Ingênuos, pedimos: "é longe?" (esquecendo-se que estávamos em Belém, onde tempo e espaço são relativos). A Arleth disse: "não, não, é pertinho...". 10 quarteirões depois, chegamos. Pra eles, é pertinho. Pra nós, que moramos em cidades pequenas, daria pra ter atravessado a cidade de ponta a ponta. Mas tudo bem, vamos pegando o jeito...

O Tonho comprou um cartão pra dar notícias a quem o espera em Santa Catarina. Gastou 4 unidades, caiu a ligação. Foi colocar o cartão de novo e... puff. O cartão caiu pra dentro do orelhão. 36 unidades pro saco... Psss

Obs.: ser sucinto não é meu forte, mas vou tentar escrever postagens menores agora. Primeiro, pelo pouco tempo que tenho (terei acesso à net aqui no Fórum, mas não há muito tempo livre). Segundo, pros nossos blospectadores não enjoarem de ler :D

Fórum Social Mundial - estaremos indisponíveis

Olá, povo amado que nos acompanha!
Já estamos acampados da UFRA, no Acampamento da Juventude.
Hoje à tarde inicia o Fórum Social Mundial.

Por questões de segurança, nosso notebook não vai ficar aqui nas barracas. Dessa forma, não teremos acesso à internet.
Voltaremos a atualizar o blog no dia 02/fev, após o Fórum.

Um forte abraço a todos/as!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

23º dia [24/jan] Vida simples é maravilhosa!!


Ali pelas 7, começamos a acordar, conversando na sala (onde todos dormiam).
Papo vai, papo vem, inicia uma conversa sobre vocações.
Tonho fez um pacto com Lila: quando ela for irmã, ele será padre. A Kary (namo do Tonho) provavelmente não vai gostar disso...
Mas o Antonio duvida tanto que disse que, quando Liége for irmã, ele ainda subirá num pé de açaí de ré.

Comentávamos que as irmãs são, de modo geral, preguiçosas para levantar. Exemplo é a irmã Adenice, que está conosco, e é a última a levantar.
Dali a pouco, a Arleth volta lá de fora e anuncia: "olha, vocês estão perdendo a melhor cena da Amazônia". Todo mundo levanta pra ver crianças remando suas canoas. Quem foi que não levantou? Adé, Lila e Tonho: as irmãs e o padre!! huahahah

ARLETH, NOSSA "ANJA" DE BELÉM

Como hoje é Aniver de 24 anos da Arleth, cantamos os parabéns e demos um abraço coletivo nela. Ela merece isso e muito mais. Essa moça de feição indígena, lutadora, que trabalha nas pastorais sociais, toca violão muito bem, sempre bem-humorada, fazendo suas piadinhas irônicas, que tão bem nos acolheu em Belém, na simplicidade da casa que vive. Que está fazendo de tudo para que tenhamos (e estamos tendo) uma ótima estadia por aqui.
Garotita, você merece toda nossa gratidão!

PASSEIO PELA MATA

Após um café-da-manhã, com bolachas e café, um barco de outro vizinho nos levou para um ponto aqui próximo, onde caminhamos mata adentro. Por aqui, a floresta já não é tão virgem, pois os ribeirinhos derrubaram muita coisa para fazer suas pequenas plantações de mandioca e pimenta (esta é pra vender). Nada devastador. Mas também não dá pra dizer que estávamos no meio de uma selva gigantesca como às vezes imaginamos...
Da margem até um pouco adentro, o caminho é feito de um elevado de tábuas, construído coletivamente pela comunidade. Depois é trilha mesmo.
No caminho, encontramos 2 campinhos de futebol de areia (já que o solo daqui é arenoso).
Por falar em areia, caminhando na trilha de areia, a Fran soltou uma pérola: "quem trouxe toda essa areia aqui". A resposta foi óbvia: "a areia já estava aqui". Huahahah.

Mais tarde, quando encontramos um olho d'água (onde o povo vai pegar água pra beber), encontramos um conhecido da Arleth que trazia castanhas-do-pará, e de uma pra gente.
Ela pegou emprestado o facãozão dele e abriu as castanhas pra gente. Quando chegou a vez da Iva ganhar, a castanha tava seca. Kkk. Quando chegou a fez da Fran... Terminou. As duas ostras (que mais largam pérolas), ficaram prejudicadas. Tsc tsc... Huahaha.

Caminhando novamente pela floresta, o Tonho largou outra: "que lugar ótimo para namorar e caçar tatu..." hahahaha. Não era do tatu animal que ele falava...

Retornando ao rio, enquanto o barco não vinha nos buscar, aproveitamos para... um banho de rio! É muito bom!!

ALMOÇO

Nosso almoço hoje foi bem simples, mas muito bom. Arroz, carne de gado e... açaí. Exceto a Lila, estamos gostando desse troço. O ruim é se acostumar e depois não ter mais pra comprar.

TARDE TRANQUILA

Após o almoço, era pra cada um lavar sua louça. Mas uns espertinhos zarparam, e a Iva viu-se sozinha lavando algumas coisas. Detalhe: a água encanada não está funcionando, porque estragou a bomba. Então pega-se água no rio, com balde, e lava-se a louça com tigelinha.
Ontem ajudei a Iva jogando aos poucos água com a tigelinha. Hoje ela, sozinha, falou brincando, mas sério: "desse jeito a gente não vai construir a Civilização do Amor". Depois ajudei um pouco ela. =D
Alguns foram dormir nas redes. Outros, que estavam molhados por ter entrado no rio (como a Fran e eu) tentamos dormir no chão, mas não ficou muito confortável. Então uns foram tocar violão (Lila e eu) e outros tomar banho (Iva e Fran). Detalhe: tem 2 opções de banho: de balde ou no rio. Escolheram a segunda, é óbvio, pois é mais legal. Desceram a escadinha na frente da casa e, só com a cabeça de fora, ensaboaram as partes.
A Fran estava desejosas de continuar o banho de rio, então a Lila e eu juntamo-nos a ela e fomos pra água! A maior emoção é correr a rampa na frente da casa e pular uns 3 metros abaixo, direto pro rio. Show de bola!!
Mais tarde, os dorminhocos acordaram e vieram banhar-se conosco.

PASSEIO PELO TOCANTINS

À tardinha, o mesmo barco da manhã voltou para nos levar a um passeio pelo rio Tocantins. Primeiro, fomos até o mercadinho aqui próximo (à beira do rio, é óbvio), pegar 5 latinhas de cerveja pra molhar a garganta. Então seguimos a viagem.
Já estávamos no rio Tocantins. Mas, como aqui tem várias ilhas, o ponto em que estávamos parecia ser um braço dele.
Quando entramos no rio em si... quanta beleza!! Uma imensidão de água, circundada de floresta por todos os lados. E o Sol, já indo pros "finalmente" do dia, coroava a beleza da paisagem. Inefável!
Não falávamos muito, apenas admirávamos tudo isso, sentindo a brisa de ar puro na face, sentindo-nos os mais sortudos do mundo por poder presenciar tudo isso.
Em meio a toda essa alegria, alguns pensamentos não tão bons são inevitáveis: toda essa beleza está ameaçada. Quem sabe nossos filhos e netos não poderão tudo isso. E tudo para aumentar o lucro das grandes corporações internacionais do agronegócio (soja, minérios, energia hidroelétrica), e grandes empresários (gado, madeira). Será que o conforto da sociedade moderna vale a destruição de toda essa maravilha da criação? Temos o direito de destruir tanta vida?
Nesse sentido, outra constatação: uma vida mais simples é fácil. Estamos conseguindo viver alguns dias com quase nenhum conforto. Passaremos quase 2 dias aqui, sem água encanada, sem chuveiro, sem internet, sem telefone. Então porque não passar a vida toda sem tanto conforto? Obviamente não estou dizendo que devemos ir pro meio da floresta. Mas defendo que não precisamos de um carro cada um, eletrodomésticos novos a cada pouco, comer exageradamente. Uma vida simples não é somente útil para nossa felicidade quanto essencial para a sobrevivência do planeta.

LUAU SEM LUA E ADMIRAÇÃO DAS ESTRELAS

Enquanto eu escrevia o relato acima, sentado na rampa sobre o rio Tocantins, no escuro, os demais tocavam violão ao lado, fazendo um "luau sem lua", no escuro (há umas 3 horas acabou a luz, e ainda não voltou).
Findando a bateria do notebook, guardei ele e me juntei ao povo. Logo findou também o som dos violões e, enquanto a Arleth e a Ir. Adenice faziam a janta, nós (5 kombatentes e Fran) ficamos deitados na rampa, observando as estrelas, curtindo o som da floresta, conversando sobre o dia e sobre esse mês fantástico que estamos vivendo.
A Lila disse o que provavelmente todos sentimos: o ano ainda está no início, e por isso é cedo pra dizer que é o melhor de nossas vidas. Mas com certeza é o melhor mês de nossas vidas. Quanta coisa acontecendo junto, quantas experiências novas...
Partilhamos sobre o modo de vida simples do povo daqui, sobre a necessidade de buscarmos também uma mudança em nossos padrões de conforto, de lutar por um mundo melhor. Discutimos que não acreditamos que uma sociedade diferente, socialista, possa vir de uma revolução armada, de cima para baixo, mas sim de baixo, conjugado com um novo jeito de se relacionar. Partilhamos a idéia de iniciarmos uma "comunidade socialista" em que, a exemplo de alguns assentamentos do MST (com o "Conquista da Fronteira", em Dionísio Cerqueira) o trabalho e a renda sejam divididos igualmente entre todos. Quem sabe isso pode servir de exemplo para outras comunidades e, aos poucos, vamos construindo uma nova sociedade.
Não consigo lembrar tudo que conversamos, e nem de longe consigo descrever aqui a maravilhosa experiência que passamos olhando as estrelas e partilhando nossos sonhos naquela noite à beira do rio Tocantins. Mas posso afirmar que isso fortalece a certeza de que tudo está valendo a pena, e que os sonhos estão se "Kombinando" e que, juntos, estamos conseguindo somar e multiplicar nossos sonhos. O desafio será não deixá-los soltos, ao vento. Não ficarão!

JANTAR DE ANIVERSÁRIO DA ARLETH

Em comemoração ao seu aniversário, a Arleth assou um pouco de carne de jacaré, pra gente experimentar. Ela é realmente show-de-bola! Faz de tudo pra agradar a gente.
A carne de jacaré é bem diferente das que estamos acostumadas a comer. Bem forte.
Comemos com arroz e carne de franco. E, para completar a refeição... Açaí, é claro! Já estou gostando, desde que tenha bastante açúcar. Em homenagem à Arleth, até a Lila comeu!

LUZ PARA TODOS

Pedi para o seu Dário há quanto tempo eles têm energia elétrica ali. Ele diz que há 3 anos, com o programa "Luz para Todos", do Governo Federal. Antes, tinham um gerador a diesel, que era ligado só durante uma parte da noite, e gastava em torno de 2 litros de diesel por noite, gerando um custo de uns R$ 150/mês. Hoje gastam apenas uns R$ 30.
E hoje a luz tinha faltado. Então, voltamos temporariamente ao tempo do liquinho, o que tem o seu lado bom, porque todos sentamos no chão, em roda do liquinho, para jantar e escutar as histórias que o seu Dário e a Arleth contavam. Histórias essas que foram aprendidas principalmente antes de ter TV por aqui quando, à noite, as famílias se reuniam ao redor do lampião.
Passando para a sala, nos ajeitamos nas redes e colchões e dormimos escutando mais algumas histórias.

Que vida boa... ôu ôu ôu que vida boa...




22º dia [23/jan] Amazônia adentro, Kombatentes!!

Hoje nos demos o luxo de dormir um pouco mais. Levantamos às 7 e pouco.
Até que todo mundo tira a remela dos olhos, toma banho e come alguma coisa, já passa das 8.
Alguns mais caprichosos, como a Iva e o Dani, lavam alguma roupa pra ter roupa limpa. Outros, como eu, não lavam, aproveitando as últimas peças de roupa limpa, e aguardando a oportunidade de ter mais tempo para lavar.

A Fran me acompanhou até a paróquia, buscar a Kombi, que lá estava guardada (por segurança).
Voltando pra casa da Arleth, fomos todos, de Kombi, para o Centur, para o 2º dia do Fórum Mundial de Teologia e Libertação.

Ao desembarcar, no estacionamento, um homem olhou a Kombi, e ficou impressionado ao saber que viemos de SC com ela. Ele é o padre Daniel, natural da Itália, atualmente no Maranhão. A Lila trocou umas palavras em italiano com ele. Junto com ele estava uma moça que atua na PJ aí no Maranhão.

PALESTRAS "BAIXAMENTE" INTERESSANTES

Chegamos atrasados na 1ª palestra, que ainda não tinha começado.
Como os palestrantes de hoje eram de outros países, tinha que pegar tradutor. Mas o negócio aqui é "altas chicura": tem tradutores numa salinha que transmitem a "dublagem" via rádio, e a gente escuta em fones de ouvido ligados a receptores específicos para isso, emprestados na entrada mediante retenção do documento de identidade.

O tema da manhã de hoje era: "Espiritualidade e ética na agenda da Sustentabilidade".
A primeira palestrante foi a Sra. Emilie Townes, dos EUA (que, para nossa surpresa, era a mulher que estava sentada do nosso lado, durante a palestra do Boff, e que não tava nem aí pra palestra, ficou só no notebook olhando não-sei-o-quê e mandando e-mails).
A fala dela não trouxe muitas novidades. Pode-se destacar 2 frases: "Desenvolvemos uma doutrina muito forte do pecado, e não tanto para a criação. Vamos logo para Gênesis 3" e "O futuro começou ontem e já estamos atrasados".

O inglês dela devia ser difícil, pois a muié que traduzia às vezes se encabulava. Uma hora ela não conseguiu traduzir e disse: "vixi Maria". Todo mundo riu. A palestrante não deve ter entendido nada.

A segunda palestra era com Steve DeGruchy, da África do Sul. A fala dele era mais animada, mas não estava sendo muito interessante. Ele falava sobre os esgotos da África do Sul quando saímos do auditório. Primeiro, porque já estávamos sem "vôia" pra ficar lá. Segundo, porque tínhamos que ir encontrar a Arleth na CNBB.

Demos uma passada nas diversas bancas de livros que tinha por lá. Como bons devoradores de livros que somos, não resistimos e compramos alguns. Também compramos algumas edições especiais da revista "Caros amigos", sobre Che, América Latina...

TRÂNSITO ALTAMENTE FEROZ

Estamos na região amazônica. Embora em Belém a floresta já foi desmatada há décadas, o trânsito continua sendo uma selva.
No caminho para a CNBB, o motorista (eu, no caso) pagou seus pecados. As avenidas com 3 ou 4 pistas, inundadas pelos inúmeros veículos circulando na hora de pico do meio-dia, não necessitariam de tanta atenção se não fossem eles, os ônibus. Os circulares andam como loucos, rápidos, apressados, e quando resolvem trocar de pista ligam o pisca e vão. E nós, na pobre Kombi, só resta buscar escapar, porque o busão não espera pelos pequenos, mesmo nós sendo um filhote de ônibus =D
Mas sobrevivemos, com apenas 2 momentos de suar frio com os ônibus.
Contudo, passamos da rua que deveríamos entrar, necessitando fazer o retorno. Achamos um espaço e me posicionei lá, aguardando o sinal fechar. Só que, lá estando, descobrimos que não era um local permitido para retorno. Mas era tarde demais, e já estávamos com 3 fileiras de carros de um lado, 3 fileiras do outro, e mais 2 à frente, esperando abrir o sinal para entrar no cruzamento. Assim que abriu o sinal, a Kombatente foi rapidinho, com o rabo entre os pneus, para a rua desejada. Uma guarda viu a cena e apitou, fazendo que "não pode" com a mão. Rezamos que ela não tenha visto nossa placa ou, que na sua sensibilidade feminina, tenha percebido que éramos pobres turistas perdidos no caótico trânsito da cidade onde Jesus nasceu.

ALMOÇO NO MERCADO VER-O-PESO

Após todo esse sufoco, conseguimos chegar à sede da CNBB, regional Norte 2, onde Arleth já nos aguardava há tempos (já era 12h30). Como as barrigas já reclamavam o tradicional almoço diário, fomos até o mercado "Ver-o-peso" almoçar. É uma grande feira livre, e a prefeitura construiu tendas sobre, ajeitando tudo isso. É meio ruim de explicar, quem quiser procura no Google =D
Fomos a uma banca que a Arleth conhece. Eles servem peixe frito, arroz, feijão, macarrão e, é claro, farinha. E, como toda refeição aqui no Pará, tem açaí. Mas só a Arleth e a irmã Adé quiseram açaí, nós negociamos suco em substituição ao açaí. Uma boa refeição de encher a pança por R$ 6.
A comida estava boa, mas o ambiente no caminho não era tão salubre: no cais onde ficam os barcos pesqueiros, frutas podres pelo chão, urubus se lambuzando com a comida, cheiro de peixe... Mas foi muito bacana conhecer.

VAMO PRA AMAZÔNIA!!

Comidos e com malas carregadas, demos uma passada da casa da Arleth para deixar a chave. Aproveitei e postei no blog que estávamos saindo, para as famílias não ficarem desesperadas pela ausência de notícias.
Eram 14h quando abastecemos e saímos em direção ao município de Cametá que, segundo a Arleth, está a uns 150km daqui.

Fomos em 8 na Kombi. Infelizmente, para termos espaço, deixamos o banco de trás em casa. Então fomos sobrecarregados. Deu tudo certo, mas na volta 2 irão de busão, por questões de segurança e também pra não levarmos multa.

No caminho, passamos por 2 grandes rios, com pontes muito bonitas, uma delas construída com o sacrifício da vida de uns 11 trabalhadores (segunda a Arleth. Mas isso não é divulgado, apenas o "grande feito" da administração que liberou o dinheiro).
Também passamos por 2 rios pequenos que tinham balsas. Foi bem rapidinho pra passar, e bem barato (R$ 10,20 no total). Antes de embarcar em uma delas, encontramos um caminhão descarregando uma carga de açaí (é tipo um coquinho que, depois de amassado, se mistura com farinha e açúcar para beber. É tão comum aqui quanto chimarrão lá. Estamos aprendendo a gostar. Exceto a Lila =D).

Após 250km (100 a mais que a Arleth pensava), chegamos ao povoado de Carapajó, onde o pai dela já nos aguardava com um barco do vizinho. Já eram umas 19h.
Povoado bem simples, de casas de madeira e povo com fisionomia indígena, provavelmente descendente de indígenas, misturados com brancos. Assim como a maioria do povo ribeirinho que tivemos contato, não sabem exatamente suas origens, e vivem num estilo de vida com hábitos indígenas e brancos, já adaptados à cultura ocidental (não sei se isso é bom).
Deixamos a Kombi numa casa de uns conhecidos da família da Arleth em Carapajó, e embarcamos (literalmente), rumo à casa do seu Dário (pai da Arleth). Daí foi mais 1 hora de barco até o povoado de Guajará, onde umas 150 famílias vivem à beira do rio Tocantins, nas margens e nas ilhas formadas pelo rio.
Pena que era noite. Mas já deu pra ter uma boa idéia da beleza do percurso, vendo as árvores da floresta amazônica na margem e o grande rio Tocantins, uma imensidão de água. Do pequeno barco a motor diesel (que cabe em torno de 15 pessoas), contemplávamos a maravilhosa natureza a nossa volta, e nos maravilhávamos, boquiabertos, com tudo de fantástico que estávamos vivenciando, imaginando como somos bem-aventurados em ter a oportunidade de estar aqui.

O Dani, observando as margens, viu o azul das telinhas de TV nas casas. Comentou como é grande o alcance e influência da TV, pois até no interior da floresta amazônica o povo assiste.

PRIMEIRO POUSO NA FLORESTA AMAZÔNICA

Conhecemos a simples e não tão pequena casa de madeira do seu Dário.
Ao passear pela casa, ficamos receosos por não ver o banheiro. Pedi para Arleth onde era, com receio de que ela apontasse para o meio do mato. Mas, para nossa alegria, ela apontou para uma rampa atrás da casa, que nos levava até uma casinha de madeira, com 2 buracos (algo comum até recentemente na zona rural de nossos municípios, que conhecemos por vários nomes: patente, privada, capunga...). Os rapazes, que têm água encanada, podem fazer o nº 1 direto da rampa =D
Jantamos arroz com charque, enchemos os colchões infláveis e fomos dormir, já que todos estávamos cansados. Alguns, como o Dani, a Arleth, irmã Adé e eu pudemos dormir em redes. Os demais ficaram nos colchões.

21º dia [22/jan] Leonardo Boff é mara!! Fórum Mundial de Teologia e Libertação

Levantamos, tomamos café e pegamos o busão para ir até o Centur, acompanhar a super aguardada palestra de Leonardo Boff. Indo até o ponto, o busão já tinha passado. Então corremos até a próxima esquina, e conseguimos alcançar o dito-cujo.
Lá, encontramos o Jacson Santana, do CIMI, nosso conhecido da Diocese de Chapecó (foi liberado diocesano da PJ no final da década passada).
Para não ficarmos tendo que fingir que éramos da organização, nossa super-Arleth conseguiu para nós uns crachás de participantes. Fiquei suado e com o coração batendo mais forte por estar fazendo isso, e fiquei refletindo se era ético ou não. Cheguei à conclusão que não estávamos prejudicando ninguém, pois não estávamos tirando a vaga de ninguém. Pelo contrário: estávamos fazendo algo bom, pois poder assistir o Boff ajuda em nossa formação e, como lideranças da PJ, aprimora nosso trabalho para com os jovens.
Elogiando a Arleth por tudo que ela tem feito pela gente, ela solta uma piadinha: "Cola em mim que é só sucesso!".

PALESTRA LEONARDO BOFF

Tivemos a alegria de assistir à palestra do Leonardo Boff, sobre "Água, Terra, Teologia: rumo a um paradigma ecológico".
Muita coisa interessante na palestra. Resumindo em poucas palavras:
- não adianta o mundo ser "mais do mesmo": mais produção, mais consumo, mais exclusão. É preciso inventar novos caminhos;
- se não cuidarmos de nossa "casa comum" (a Terra), não teremos onde habitar, porque é a única;
- ver a ecologia como um novo jeito de se relacionar com a Terra, e não apenas como uma técnica para aproveitar recursos escassos;
- o caminho não é o "desenvolvimento sustentável", mas um "modo sustentável de viver";
- nós, humanos, ocupamos um lugar singular no planeta: o da responsabilidade pelo cuidado;
- antes fazíamos uma guerra de exército contra exército, depois de nação contra nação, depois cultura contra cultura. Por fim, toda humanidade se reuniu numa guerra contra Gaia (planeta Terra). E não temos chance alguma;
- se não dermos nossa colaboração, seremos cúmplices de uma tragédia iminente;
- devemos causar um "efeito borboleta positivo". Uma pequena ação pode causar grandes mudanças;
- não acredito que a humanidade evolui tanto para acabar em 2 ou 3 gerações;
- eco-simplicidade: podemos ser mais com muito menos. Precisamos de um pouco de água, feijão, arroz, e umas roupas para esconder as vergonhas;
- daqui a alguns anos, todos seremos socialistas. Não por ideologia, mas por matemática. Ou dividiremos o que temos ou morreremos todos;
- sejamos como peixes na piracema: eles nadam contra a corrente, vão até a fonte e, de lá, irradiam novamente a vida.

O cara é fera! Bem bacana essa dimensão do cuidado que ele tanto fala. Não adianta só pensarmos na preservação da natureza sob o aspecto utilitário, do que pode ser benéfico para nós, mas numa ética global, de nosso papel no mundo.
Legal que o Boff não usou slides, filmes, músicas, não ficou pulando e dançando no palco, e mesmo assim sua palestra foi super interessante. Quando o cara tem bastante a dizer, e fala de modo simples, não precisa de tantos recursos para prender a atenção.

Findando a exposição dele, abriu-se espaço para as perguntas escritas. Nós fizemos uma: "Qual é o papel da juventude na mudança dessa realidade insustentável?". Mas, como eram muitas perguntas, ele respondeu numa fala só, e não considerou todas. Dessa forma, a nossa não foi respondida.

Ao fim da palestra, nos juntamos aos diversos que foram bater fotos, pegar autógrafos e fazer entrevistas com ele. Tínhamos comprado um livro dele pro Tonho, de presente, e queríamos autografar.
Com um pouco de paciência, e também sendo um pouco metidos, conseguimos o autógrafo. Mas a foto quase perdemos: ele já estava cansado e se levantava para sair, finalizando a seção de autógrafos e fotos. Mas a Lila pediu: "conterrâneo, tira uma foto com a gente. Viemos lá de Santa Catarina". E conseguimos.
Falei para ele: "Tuas palavras nos inspiram na luta por um mundo melhor". E ele respondeu algo como: "Agora vamos colocar esse troço em prática" :D
Muito legal. Realmente, a fala dele fortaleceu nossas utopias.

CONHECENDO A CNBB

Voltamos para a casa da Arleth para almoçar e, à tarde, voltaríamos para o FMTL, para as oficinas. No ponto do ônibus, mudamos de idéia. Como muitas oficinas são em outros idiomas, sem tradução, e as vagas são limitadas, considerando que já estava quase na hora, as chances de não conseguir vaga seriam grandes. Então optamos por ir conhecer a sede da CNBB, regional Norte 2, onde a Arleth trabalha (nas pastorais sociais).
Outro motivo para isso foi que surgiu a oportunidade de conhecermos a casa dos pais da Arleth, no interior da Floresta Amazônia, a uns 150km daqui. Então vamos ver se conseguimos convencer a chefe dela a liberá-la amanhã à tarde, para irmos até lá e voltarmos no domingo. Vamos perder o resto do FMTL, incluindo a palestra da Marina Silva, mas temos que fazer opções. E vamos optar pela vivência à teoria.
Na CNBB (que é super-longe daqui, mesmo de busão), conversamos com a chefe da Arleth, e deu certo.
Também fomos para a salinha da PJ, onde estava o Fábio (da Coordenação Nacional da PJ) e outros da Consulta Popular, o jovem Lindenilson (daqui do Pará, que já foi da CNPJ) e o não tão jovem Goulart, do Paraná. Com eles, tivemos um papo bem bacana de troca de idéias sobre vários aspectos da sociedade, incluindo a discussão sobre "outro mundo possível". Talvez valeu mais do que se estivéssemos nas oficinas. Adoro essa troca de idéias com gente que tem algo a debater. Promove nosso crescimento.

BUSÃO LOUCO

Na volta pra casa, pegamos um busão cujo motorista estava super-apressado. Como resultado, fazia as curvas em alta velocidade, desviava dos carros, e fazia a gente estar com o coração na mão, sentindo-se numa montanha-russa.
Dali a pouco, toca a sinetinha e um casal de portugueses se prepara para descer. Antes disso, o português xinga o motorista: "pare este ônibus. Tu não sabes dirigir. Lá em Portugal tu não farias isto. Pare esta bosta agora!". O motorista revidou, dizendo que tinha horário para chegar.
Penso que o horário não pode ser motivo para arriscar a vida. Como diz o ditado: "é melhor chegar atrasado nesta vida que adiantado na outra". As empresas de ônibus teriam que rever isso, dando condições para que isso não aconteça.

CANTANDO NA PRAÇA

À noite, fomos comer pipoca, tomar chimarrão e tocar violão numa praça "aqui perto". Perto na visão da Arleth, que acha tudo que está a menos de 10 quadras perto. Pra nós, é bem longe, principalmente quando estamos cansados. Mas foi bem legal.

20º dia [21/jan] Em Belém, uhuu

Para fazermos os mais de 600km que nos separavam de Belém, levantamos cedo e saímos ali pelas 5h.
Ao entrar no Pará, já deu pra ver que estávamos na região Norte do país: mudou solo (que deixou de ser tão arenoso) e a paisagem (vegetação seca deu lugar à verde). Outro detalhe: apesar de estarmos numa região plana, por vários quilômetros nenhuma rádio conseguia ser sintonizada.

Entrando em Belém, alguns outdoors diziam "Bem-vindo a Belém, terra do Fórum Social Mundial 2009". Cara, é muito bom chegar aqui! E o melhor ainda é que não tivemos nenhum problema mecânico nestes mais de 2.000km do trecho Natal-Belém.

NOSSO PRIMEIRO ACIDENTE

A partir o e-mail da Arleth, tentamos ir até o Centur, onde acontecerá o Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Como é de praxe, buscando auxílio no Google Maps.
Mas passamos da avenida que era para virar, e tentamos virar numa ruazinha mais à frente. Contudo, essa ruazinha tinha um ponto-funil, onde só passava um carro. Não freamos o suficiente para virar, e a Kombatente enroscou a lataria à esquerda, no canteiro. O barulho da lada encostando no concreto é péssimo.
Saímos e verificamos que só a lataria tinha sido prejudicada. Empurramos e conseguimos tirar a Kombi de lá pra seguir adiante. Só a porta lateral não fechada mais. Passado o susto, o Dani lembrou do filme que assistimos na véspera da viagem: "Pequena Miss Sunshine", onde a Kombi deu 3 problemas: precisava ser empurrada, a porta caía (e precisava ser segurada) e a buzina não parava de tocar. Agora, só falta a buzina dar problema, pois já empurramos a Kombi e também tivemos que segurar a porta :D
Pensamos em levar para uma chapeação arrumar. Mas depois, considerando o transtorno que isso daria, resolvemos arrumar mesmo, e a Lila, o Tonho e um martelo resolveram o problema, e a porta voltou a fechar.

NO FÓRUM MUNDIAL DE TEOLOGIA E LIBERTAÇÃO

Chegando no Centur, ficamos no estacionamento e ligamos pra Arleth, que estava no trabalho dela (na CNBB). Ela ficou de vir assim que pudesse (o que aconteceu mais de 2 horas depois). Ficamos esperando tranqüilos, até puxamos o violão para tocar.
Hoje à noite começa o Fórum de Teologia, e amanhã tem a palestra mais aguardada: Leonardo Boff. Nós, infelizmente, não fizemos a inscrição a tempo, e não há mais vagas. Tentamos ver com a organização, mas não tem como. Resta participar do "café teológico", espaço alternativo, de livre acesso, com outras atividades, como mostras de filmes, músicas, outras palestras...
Já dá pra perceber a grande diversidade que vamos encontrar aqui em Belém: tem várias pessoas de outros países. Dá pra ouvir falas em inglês e espanhol pelos corredores.

ARLETH, NOSSA SALVAÇÃO

Perto das 18h, chegou a Arleth, a Fran (da PJ de Londrina - PR) e a Ir. Adenice (de João Pessoa - PB, da congregação que a Arleth participava quando foi pro convento) com 5 crachás de "organização" do Fórum de Teologia, o que nos dá livre acesso a ele. Pulamos de alegria e a abraçamos. Vamos poder ver Leonardo Boff!

CONHECENDO BELÉM

À noite, íamos para a abertura do FMTL (Fórum Mundial de Teologia e Libertação). Mas, como ia ser basicamente só as formalidades de discursos e coisa-e-tal, resolvemos aproveitar e conhecer um pouco de Belém. Pegamos um busão e fomos até o "ver-o-rio", no cais do porto da Baía de Marajó, onde tinha um naviozão atracado. Tinha também uma pracinha muito bonita à beira do rio. Pena que este está super poluído.
Nesta pracinha, vimos um casal de lésbicas trocando carinhos, e ficamos conversando sobre. Como isso é estranho para nós. Porém, não somos contra o homossexualismo, pois cremos que é melhor um casal homossexual feliz do que um hetero que não se acerta.

ACOLHIDA SIMPLES

A Arleth nos acolheu em sua casa, onde vive com suas irmãs. Como não cabe todo mundo pra dormir lá, nós 3, rapazes, dormimos na casa do padeiro João, vizinho, que foi dormir num parente e deixou a chave da casa conosco. Como é que pode, né: as pessoas nem nos conhecem direito e já confiam tanto na gente que até deixam a casa à nossa disposição. Incrível!
Aqui na casa do João tudo é bem simples: são 3 cômodos: sala, quarto e banheiro. No quarto mal-e-mal cabe a cama de casal, sobrando uns 30cm do lado, para passar. Tiramos o sofá da sala para colocar o colchão inflável (o sofá foi repousar na casa de outra vizinha). E dormirmos os 3, de atravessado, no colchão inflável. Eu, para não precisar me encolher todo, estiquei meus pés para dentro da raque da TV.
O teto é baixo, a ponto de nós termos que sempre andar curvados aqui dentro. O chuveiro bate no meu queixo, necessitando que o banho seja tomado de joelhos flexionados.
Mas tudo isso não nos entristece. Um dos objetivos da viagem era abrir mão do conforto, e estamos conseguindo. De modo que consolidemos a crença de que é possível, sim, viver de modo mais simples, sem tantas futilidades.

19º dia [20/jan] Curto trajeto até Santa Inês

Como tínhamos pouso fácil em Santa Inês (MA), podemos nos dar o luxo de andar menos de 400 km.
No caminho, precisávamos ligar para o Philip, pra confirmar nosso pouso por lá. Mas encontramos um grande problema: os orelhões.
Paramos num vilarejo pra ligar. Mas passamos por uns 5 ou 6 orelhões e nenhum deles funciona. Disseram que isso é normal por aqui. Na minha opinião, isso é um descaso por parte da Telemar, operadora daqui. Pôxa, é tão fácil de ver que, se um orelhão não tá fazendo chamadas há algum tempo, é porque não tá funcionado. Só porque o orelhão está numa vila pequena, então pode ficar sem funcionar? Justamente nesses locais onde ninguém tem acesso a telefones...
Quando achamos um orelhão que funcionava, o celular do Philip estava fora do ar. E, de quebra, o orelhão me comeu 5 unidades do nada.

DE QUEM É ESSE JEGUE?

Na estrada, quase atropelamos um jegue que andava cabisbaixo, no meio da rodovia, na contramão, tranqüilo, pensando na vida. Se tivéssemos "empacotado" o coitado, aposto que não teria dono...

KOMBINANDO SONHOS 2

Já começamos a pensar no que faremos em janeiro de 2010. Há várias opções: uma delas é o Kombinando Sonhos 2, indo de Kombi pro norte, passar pela Amazônia e quem sabe ir até outro país, como a Venezuela. Outra é esquecer a Kombi e fazer outras experiências diferentes, como missão na Amazônia (o Dani já conversava sobre isso no ENPJ com um padre que está lá, o Pe Loivo, ou ir pra Cuba na Brigada da Solidariedade (algo que acontece todo ano, em que fica-se 2 semanas conhecendo a realidade cubana). Mas uma coisa é certa: é grande a vontade de, a partir de agora, aproveitar as férias para ter novas experiências, conhecendo coisas novas e firmando nosso projeto de vida, tudo voltado a causa na qual acreditamos. Até já pensamos num nome para isso: "janeiro revolucionário". Hehehe.

HOMEM DROGADO EM SANTA INÊS

Chegamos cedo em Santa Inês (MA). Era umas 14h. Finalmente consegui ligar pro Philip, e ele ficou de ver um lugar pra gente ficar. Enquanto isso, fomos ao mercado, abastecer a despensa com comida. Depois, enquanto esperávamos, no estacionamento, o cara que viria buscar-nos, vimos uma cena não muito agradável: um homem de uns 30 e poucos anos, descalço e sem camisa, na rua, inquieto. Observando melhor, vimos que ele provavelmente era drogado e estava necessitando mais droga, já sentindo os efeitos da abstinência. Chegava a chorar.
Tentando ajudar, a Lila deu um pacote de bolachas para ele, mas ele não comeu.
Nos sentimos mal, por não poder fazer nada frente a uma realidade assim. Por isso é importante lutar para mudar as estruturas injustas da sociedade, já que as conseqüências são difíceis de remediar.

POUSO

Após 3 horas no estacionamento, finalmente veio nosso acolhedor. Ele é da Renovação Carismática daqui.
Nos levou até a casa de formação da RCC. Ela está em reformas, mas passamos um pano no chão, enchemos os colchões e deu pra dormir.
Saímos para comer uns pastéis super-baratos (R$ 1,00) numa lanchonetezinha na esquina. Só ficamos despenteados com o vento que saía de dentro :D começou a garoar, e não tinha espaço dentro da lanchonete. Ficamos do lado de fora, tentando se esconder entre a aba do prédio e uma árvore, desviando das goteiras. Mas foi legal.
Conhecemos um refrigerante de marca "Jesus". O sabor nominal que o rótulo dizia era "guaraná", mas era rosa-claro, aparentando tuti-fruti, com um gosto nada agradável. Ao menos vale a experiência :D
O povo foi dormir cedo, às 10 e pouco. A Lila e eu ficamos até meia-noite atualizando o controle financeiro, lançando nossos gastos na planilha. Até agora, está tudo sob controle nesse sentido.

18º dia [19/jan] Ceará, Piauí e Maranhão

Era pra saírmos às 6h40. Saímos às 7h10. Atraso de apenas meia hora. Estamos melhorando :D
Nosso amigo Jairo nos acompanhou de moto até a rodovia, já que era caminho pro trabalho dele. Muito gentil da parte dele, já que impediu que nos perdêssemos (não que isso fosse uma coisa comum :D) e ele teve que chegar atrasado (por causa do nosso atraso).
Pra variar as músicas e sair do tradicional sertanejo universitário, abrimos o CD da Flor de Mandacarú, que compramos no ENPJ (é uma banda da PJ de Imperatriz - MA). Muito bom o CD, com várias músicas bacanas da caminhada. A percussão nordestina dá um toque animado às canções. Bem legal essa diversidade cultural que vamos tendo contato.

No caminho, encontramos vários "Santo Antônio" e "São Sebastião" em nomes de comunidades, de comércios e outros. O Tonho, que se chama "Antonio Sebastião Bortolini", fica se achando nessas horas.

KONVERSAS KOMBATENTES II

Na Kombi, continuamos a conversa sobre afetividade. Falamos sobre "a arte da conquista", sobre as diferenças entre moças e rapazes, sobre porque diversos relacionamentos (tanto namoros como casamentos) não dão certo... Discutimos a importância de cada um renunciar a algumas coisas e ser flexível para que o relacionamento dê certo.

SECO PIAUÍ

Passando por Piauí, alguém falou que é um dos estados mais secos do país. É fácil de se comprovar isso: a maioria das pontes que passávamos já não tinham rios embaixo, apenas areia.
Olhando as pessoas que vivem à beira da estrada, o Dani refletia sobre o modo de vida desse povo humilde. Como vivem nesse ambiente tão seco? Em casas de pau-a-pique, com um solo super seco, num calor infernal... Realmente, não deve ser fácil.
Para destoar com essa paisagem seca, passamos por uma serra cheia de árvores, contrastando bastante com a paisagem seca que até então se via. Como é que pode tamanha diferença tão repentina?

ALMOÇO NATUREBA

Ontem e hoje, no almoço, pra ganhar tempo, compramos frutas em feirinhas que tinham nas cidadezinhas que passávamos. As frutas são bem baratas. Só tomamos o cuidado de escolher, porque numa das feiras tinha, perto das frutas, umas galinhas depenadas com diversas moscas de brinde, rodeando-as. Arghh!
Conseguimos comprar um saquinho de babaçú, um coquinho que, em aparência e gosto, lembra a castanha-do-pará. Muito gostoso.

POSTO ANIMAL!!

Num posto de gasolina que paramos para o descanso-150, tinha uma diversidade animal muito grande: porcos, galinhas e até uma vaca! Os porcos fizeram a festa com as cascas de banana residuais de nosso lanche.

CHEGADA EM TIMON

Passando por Teresina, abrimos o e-mail para ver se o Denílson, da cidade de Timon (onde vamos ficar), tinha respondido o e-mail com o endereço. Ele respondeu, dando orientações de como chegar lá. Mas tínhamos apenas 2 minutos de bateria. Até que consegui conectar à internet, entrar no Yahoo! e abrir o e-mail, o tempo já tinha praticamente se esgotado. Então fui gritando pra Lila anotar o caminho, e logo puff! A bateria finaliza-se.
Partindo das orientações, viramos à esquerda numa ponte, contamos 5 ruas, viramos à esquerda de novo e tentamos achar a "Casa Assistencial" na 2ª quadra. Mas não tinha nada parecido, nem ninguém que soubesse nos informar. Ligando pro Denílson dum orelhão, descobrimos que as orientações anotadas às pressas tinham um pequeno erro: era pra virar à direita na ponte. Detalhe tão pequeno... Hehe
Após umas voltinhas, chegamos ao nosso lugar de pouso de hoje.
Pra estacionar a Kombi eu, magnífico manobrador que sou, quase derrubei uma moto dum rapaz daqui =D Um dia eu aprendo a manobrar... Ou não.
Vieram vários jovens da PJ local jantar conosco, cada um trazendo um pouco de comida, resultando numa farta janta. Foi bem legal. Conversamos e contamos piadas. Como sempre, minhas energias já estavam quase zeradas (de manhã estou com a pilha cheia, e à noite o cansaço normalmente apressa meu sono).
Antes de dormir, as moças conversavam no quarto, e a Iva falava que já estava tão morena que já podia concorrer à cota para negros nas universidades. Exagerada =D

17º dia [18/jan] Despedida de Natal, rumo a Fortaleza

"É triste a dor do parto, mas temos que partir". Chegou o dia de novamente "ensacarmos a viola" e pegarmos estrada.



Como tínhamos que estar em Fortaleza antes do escurecer, levantamos às 5 e pouco, para sair às 6.

Como de praxe, demoramos um pouco mais para arrumar as malas. e, quando estava quase tudo pronto, o povo da alimentação veio pra fazer o café. Então resolvemos esperar e já sair "comidos", pra não precisar comprar comida pelo caminho.


CARINHO DO POVO PARANAENSE


Muitos já foram embora de Natal ontem. Outros, ainda dormiam. Dos que estavam tomando café na mesma hora que a gente, boa parte era do Paraná, nossos companheiros desde Maringá, "kombatentes à distância". E partiu deles uma despedida bacana: tocaram uma música pra nós. Eu não conhecia nem lembro da letra, mas era muito bonita.


RUMO A FORTALEZA!!


Saímos às 7h30. Quase acertamos de primeira o caminho pra sair de Natal (só precisamos parar uma vez no caminho pra pedir).


É bom estar novamente na estrada! Estar de volta ao lar: nossa Kombatente.

Um pouco mais, e tudo volta ao normal: nos primeiros 20 minutos de viagem, o povo já quase dormindo, a Lila controlando a velocidade da Kombi ("devagar, motora!"), a gente não deixando a Iva fazer as coisas... Mais 20 minutos e os 3 de trás escorados, dormindo, e o rádio tocando um CD de sertanejo universitário.

QUENTE, MUITO QUENTE

Na vinda até Natal, tivemos sorte de encontramos muitos dias nublados.

Hoje não tivemos a mesma sorte, e o Sol mostrou toda a sua força. Cara, passamos muito calor. Na cabine tudo bem, pois as janelas trazem vento que refresca. Mas na classe econômica não tem janelas, e quase não chega vento da frente. O resultado já dá pra imaginar...

Quando a gente vai dormir atrás, acorda todo suado. O Dani normalmente opta por viajar sem camisa, mostrando todo seu aparato muscular :D


MOSSORÓ


Ao meio-dia estávamos em Mossoró (RN). Não encontramos mais nenhum mercado aberto pra comprar comida. Então paramos num posto, abastecemos e compramos umas bolachinhas doces e salgadas. Para beber, compramos um litrão de refri de caju, que não conhecíamos. É bonzinho. Tem gosto de caju.

Em Mossoró, assim como na maioria dos lugares por aqui, tem que procurar bem para encontrar um motoqueiro de capacete. Cara, não entendo como a polícia permite uma coisa dessas, algo tão importante para a vida do povo que anda em 2 rodas.

Pra variar, andando pelas ruas daqui, entramos numa contra-mão. Como sempre, não foi culpa nossa, mas da má-sinalização e do trânsito confuso (mão única, por ex.). Huahahah


KOMBINANDO KONVERSAS - RELACIONAMENTOS AMOROSOS


Numa de nossas paradas de 150km, paramos para tomar umas cervejas e água-de-côco (pro motora). E aproveitamos para conversar sobre relacionamentos amorosos. Cada um partilhou suas experiências (que, de modo geral, não foram muitas), com quantos cada um ficou... É bem bacana isso: a gente poder conversar sobre isso, partilhar nossas vidas, se ajudar. Quanto mais viajamos juntos, mais nossa amizade se fortalece.


PRAIA EM FORTALEZA


Chegamos em Fortaleza mais cedo que o previsto (considerando que saímos atrasados). Eram mais ou menos 17h quando estávamos próximos, e resolvemos passar por uma praia de lá. Olhamos no mapa alguma mais próxima, e pegamos a entrada que levava para lá.

Infeliz escolha... Tinha um congestionamento meio grandinho e, quando chegamos na praia, tava quase escuro. As fotos quase não apareceram. Mas foi bom, a paisagem de larga faixa de areia branca com coqueiros é show de bola.

Aproveitamos e apostamos uma breve corrida entre os rapazes, até um quiosque e volta. Eu saí na frente, favorecido pelo fato dos colegas estarem na areia mais fofa. Mas perdi na resistência, e o Dani me passou na volta. Atleta que sou, demorei até conseguir recuperar o fôlego depois dos "100 metros arenosos".

Voltando à rodovia, vimos que nosso "pulinho" até a praia demorou 1h30. Mas que nada, são experiências que vamos acumulando.


POUSO EM FORTALEZA


Ainda no ENPJ, o Lucas, de Fortaleza, fez um mapa bem explicadinho sobre como chegar na comunidade dele. Mas não sei porque entramos em Fortaleza por outro caminho, passamos pelo centro e, depois de muitas voltas (e de uns 20km), encontramos a comunidade. Como sempre, alguns transtornos até chegar: tivemos que pegar um retorno, pegamos um trevo para pegar outro retorno, entramos de volta na rodovia ao invés de retornar... Mas que nada, no fim das contas chegamos.

Na comunidade, fomos acolhidos na casa dum guri da PJ, o Marcones (Teté). Também teve outros jovens que estiveram um pouco com a gente, em especial o Jairo e o Lucas, que foram comer pizza conosco.

Na casa do Teté, ficamos num quarto aos fundos. Ele e sua mãe, Zuzú, foram bem atenciosos conosco.

Pena que estava muito quente. Tivemos que dormir com 2 ventiladores.

O chuveiro era frio. Normal. O último chuveiro elétrico que encontramos foi em Brasília. É que por aqui não é necessário. Frio é uma palavra que praticamente não está no vocabulário daqui.


PÉROLAS


Lila: "com 16 anos, eu já tinha a mentalidade e atitudes que tenho hoje, com 21 anos"

Iva: "eu nem tinha atitude com 16 anos..."


Compramos refrigerante de caju para experimentar.

Tonho: "Meu estômago não é adaptado para beber isso. Tenho medo que faça mal."

Rodrigo: "Não tem problema, Tonho, nossos estômagos são total flex"

16º dia [17/jan] Penúltimo dia no Encontro Nacional

O tempo voa. O encontro já está acabando... Ainda mais pra nós, que chegamos 2 dias atrasados :D

No café, conhecemos o Cristiano, de Altamira - PA (prelazia do Xingu). Ele, além da PJ, participa da CPT. Automaticamente, está bastante ligado com as lutas do campo e com a Via Campesina. Foi bem interessante conversar com ele. A PJ da região Norte tem uma ligação bem forte com os movimentos do campo. Isso é bem bacana.

Novamente foi feita a oração com base no Ofício Divino da Juventude.


AMPLIADA DE PALMAS E 10º ENPJ


Pela manhã, foi relembrado que, há 1 ano, aconteceu a Reunião Ampliada de Palmas (TO). Chamou-se um por regional e partilhou-se entre todos os delegados um bolo de comemoração.

Também foram apresentadas as 2 dioceses candidatas a sediar o 10º Encontro Nacional da PJ: Maringá (PR) e Belo Horizonte (MG).

Deu pra perceber uma diferença entre as 2 apresentações: Maringá apelou mais para o lado racional, buscando destacar que tem estrutura e preparo para sediar o décimo. Já BH focou o aspecto emocional, destacando que está de braços abertos a acolher todo mundo. Utilizou uma história quase poética e, quando falou do sul, disse: "O sul dos kombatentes, o sul dos riograndenses, o sul dos paranaenses". Bem legal.


ARTICULAÇÃO DE POUSOS


Tendo o roteiro até Belém e a volta já definidos, buscamos contatos para articular os pousos. Como tem gente de todo o lugar do Brasil aqui no ENPJ, fica fácil, e já temos quase todos os pousos garantidos.


ANIVERSÁRIO DO TONHO


Hoje é aniversário de 23 anos do Kombatente Antonio!! Uhuuu!

Não demos presente (ainda) e nem fizemos festa. Mas cantamos parabéns, tiramos fotos e dissemos para ele, olhando nos olhos, como ele é importante para nós. Esse garoto sensato, maduro, companheiro... Garoto, és muito bom tê-lo como companheiro de viagem!


KOMBATENTES FAMOSOS


Hoje fomos chamados para várias coisas: gravar depoimento para um vídeo que o CCJ está fazendo, entrevista para o Pe. Geraldo (assessor de imprensa da CNBB), várias pessoas querendo tirar fotos com a gente, na Kombi... E também, na adoração, um padre falou da gente e disse que éramos heróis por ter vindo de Kombi para o ENPJ.

Nos sentimos importante =D

Claro que é bacana todo esse carinho. Mas, bem de sincero, acho que não é tão espetacular assim o que estamos fazendo. Tem tanta gente que faz mais pela caminhada, que luta, que sofre, e muitas vezes nem é lembrado.


CAMINHADA


À tarde, tinha caminhada de encerramento do ano da juventude na arquidiocese de Natal.

Nos juntamos a diversos jovens daqui, de várias organizações católicas. Tinha 2 trios elétricos animando, com em torno de 1.500 jovens.

A caminhada foi bacana e bem animada, recheada de músicas da PJ, como "Momento Novo", "Axé", "Esperança Jovem" e, é claro, "Nego Nagô" e o hino do 9º ENPJ.

Na minha humilde opinião pessoal, só faltou firmar o objetivo da caminhada. Era uma caminhada pela paz, mas isso ficou muito solto no ar. Faltou falas nesse sentido para firmar isso.


ADORAÇÃO CARISMÁTICA


Após a caminhada, tinha o que eu pensava que seria uma missa campal, mas que na verdade era uma adoração, feita bem ao estilo carismático. Teve momentos legais, como a entrada da bandeira de todos os estados brasileiros. Mas teve momentos que não gostamos, como a entrada de "Jesus" (na verdade, do ostensório) numa caminhonete importada, toda enfeitada. Primeiro, não acho legal fazer a entrada de Jesus, porque ele já está entre nós. Segundo, Jesus entrou em Jerusalém num burrico, para ser mais humilde. E aí entram numa caminhonete importada... Quando foi que Cristo saiu do povo e foi pro trono? tsc tsc...


CARINHO DO ARITON


Na janta, um homem que estava ajudando na alimentação, o Ariton (da Pastoral Familiar de Natal) nos passou o e-mail dele pra gente mandar notícias. Disse que estavam aguardando nossa chegada e se preocupavam conosco. Pensou que era uma Kombi modelo novo, e se surpreendeu quando viu que era uma 1995.

Cada dia a gente se surpreende. Como é que pode que tanta gente que nem sequer nos conhecia se preocupar conosco?


ENVIO


Ao fim da noite, foi feito o envio, na Igreja. Momento bem bacana, também de agradecer a todo o povo que trabalhou.


Não relatei tanto do ENPJ, mas sim nossa experiência na participação deste. Mais detalhes dele podem ser encontrados no site da PJ nacional: www.pj.org.br.