No início da manhã, refletimos novamente sobre mudar ou não pro acampamento da Via Campesina (porque lá a juventude é mais consciente, e também por questões de segurança). Mas, ao fim, optamos por ficar onde estávamos mesmo, pois daria muito trabalho mudar, e também tem o povo nosso que veio com o CIMI, e pra eles fica mais fácil ali onde estávamos (mais perto da tenda do CIMI).
PALESTRA FREI BETTO
Pegamos um busão e fomos para a UFPA, para a palestra do Frei Betto. Chegamos no auditorizinho que estava programado (não cabiam 50 pessoas lá dentro). Logo vieram avisar que, em função do espaço, foi transferido para outro auditório, um pouco maior. Chegando lá, o negócio tava fervendo: tinha gente além da porta, já não conseguíamos entrar, de superlotado. Como havia vários lá fora, o povo começou a protestar, pedindo um lugar maior. Dali a pouco gritavam “cadê o outro mundo? cadê o outro mundo?” e em seguida, pediram pra ser no palco (“palco, palco, palco...”). Eu já estava disposto a buscar outra palestra pra participar, quando Frei Betto chegou, falando que ia conversar com a organização. Em uns 2 minutos, já nos dirigíamos ao palco. Bem curioso isso: uma palestra no palco.
Alguns trechos da palestra do Betto:
- “tem militância de esquerda que é militonta: participa do Fórum, central sindical, movimento popular... mas não planta nada que tenha raiz. Se gaba de ser muito atuante, mas dê a ela uma fatia do poder pra ver quem ela é”;
- o problema (da destruição ambiental) é que separamos o que nunca esteve separado: o ser humano e natureza;
- há muitos católicos que não são cristãos e muitos cristão que não são humanos;
- todos nós temos 2 problemas: defeito de fabricação e prazo de validade;
- elegemos os governantes e pensamos que o governo é como uma grande vaca, com uma teta para cada um. Mas, na verdade, governo é como feijão: só funciona com pressão;
- é preciso fortalecer o trabalho de base dos movimentos populares, pelo método Paulo Freire.
Após a palestra, nos juntamos à pequena multidão que rodeou Frei Betto para pegar autógrafo nos livros que compramos dele, especialmente no que daremos de presente à Arleth.
ALMOÇO
Almoçamos por lá. Encontramos uma barraquinha que vendia um prato de arroz, batatinha e outras potcharecas por R$ 3.
CADÊ A OFICINA QUE ERA PRA ESTAR AQUI?
Ao meio-dia já estávamos almoçados e prontos para a atividade das 12h. Cada um foi para uma oficina diferente. Quer dizer, tentou ir, pois só a que o Tonho participou efetivamente aconteceu. As demais tinham sido canceladas (algo comum aqui no Fórum: cancelamento ou transferência de local de atividades).
A Iva e eu, aproveitando o tempo vago, demos uma volta pela UFPA. Planejamos em quais atividades vamos amanhã, tomamos água (algo “extremamente necessário” aqui em Belém, considerando o Sol escaldante), acessamos um pouco da internet (tinha uma tendona com net grátis) e passeamos um pouco. Encontramos um egípcio distribuindo cartazes de protesto contra o genocídio do povo palestino. Peguei 4 cartazes e o e-mail dele.
OFICINA DO GREENPEACE
À meia-tarde, fomos participar da oficina [R]evolução Energética, organizada pelo Greenpeace. A sala era pequena e os interessados, muitos. Pra variar, sentamos no chão (e isso que chegamos 10 minutos antes de começar). Mas tamo acostumado...
O cara do Greenpeace falou sobre a geração de energia e seus impactos. Então apresentou a proposta da organização para suprir essa necessidade crescente no Brasil com fontes limpas (solar e eólica, especialmente). Fizeram estudos detalhados do potencial brasileiro de geração nestas fontes, a maioria a ser explorado (já que o modelo brasileiro é hidro-térmico: usinas hidroelétricas e, quando o nível está baixo, usinas térmicas).
No momento que abriram para participações, fiz uma pergunta mais ou menos assim: “Considerando que a demanda por energia crescerá muito mais do que a população (mais consumo per capita), e sabendo que esse aumento é conseqüência do modelo consumista vigente na sociedade, resultado do sistema capitalista, pergunto: o Greenpeace acredita numa sociedade sustentável dentro do capitalismo?”. O cara gaguejou, enrolou, reconheceu que é preciso diminuir o consumo, mas não respondeu diretamente à pergunta. Na verdade, eu sabia que ele não ia responder, pois o Greenpeace oferece alternativas para a questão ambiental, mas não faz uma discussão da estrutura da sociedade. Mas perguntei para incentivar a reflexão dos presentes.
DANIEL FOI VER OS PRESIDENTES
Demos uma volta nas barracas da UFPA e, depois de nos desencontramos por quase uma hora, voltamos de busão pro acampamento. descobrimos que o Dani tinha ido para um local chamado Hangar, aqui em Belém, onde aconteceu um momento com 5 presidentes latino-americanos: Lula, Huo Chávez, Evo Morales, Fernando Lugo e Rafael Corrêa. Todos pensávamos que seria restrito, mas na verdade era aberto. Fiquei com pena de não ter ido, mas que bom que pelo menos o Dani conseguiu ir (tudo bem que ficou 2h30 na fila, mas conseguiu :D).
CONVERSA COM LILA
Antes de dormir, ficamos trocando umas idéias, a Lila e eu. Ela falou que, se fosse olhar pelo lado financeiro, não teria condições de vir pra viagem. Mas pensou: “essa é uma oportunidade única em minha vida” (e de fato é). Assim, todos na família juntaram forças e ela conseguiu vir. Relembramos da fala da Marina Silva, quando disse que a juventude não é pragmática, do contrário muita coisa não aconteceria.
LIÇÕES DO DIA
Dos acontecimentos de hoje, refletindo, dá pra tirar 2 lições:
1ª) A luta funciona. O exemplo da palestra do Frei Betto: se todos tivessem se resignado e ido atrás de outra oficina (como eu tava querendo). Mas o povo, protestando, conseguiu que todos pudessem participar;
2ª) É preciso ir atrás das coisas, ser metido muitas vezes. Isso a gente usou várias vezes na viagem. E hoje, por exemplo: o Dani foi pro momento com os presidentes porque, mesmo que uns disseram que era fechado, outros disseram que não. Nós sabíamos que ia acontecer, mas nos contentamos com a explicação que seria fechado, e não fomos... :(
Vivendo e aprendendo...
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